terça-feira, 8 de maio de 2018

Piaget & Vygotsky


As teorias de Piaget e Vygotsky são referência quando o assunto é construção do conhecimento ainda nos dias de hoje. Ler e refletir sobre ambas é sempre importante para quem leciona ou pensa educação. Em alguns aspectos tais teorias caminham lado a lado, mas em outros acabam tendo algumas diferenças.
Piaget tinha o objetivo de “resolver os grades problemas epistemológicos” (Montoya, ) e dessa forma a linguagem não podia ficar de fora de toda a sua teoria, ele tratava da questão da aquisição da linguagem atrelada à constituição da função simbólica. Trazia à luz a questão da imitação como meio de reproduzir os caracteres individuais dos objetos, associando a essa a coordenação dos esquemas sensório motores e a interiorização de ambos como essencial para a constituição da função simbólica. Quanto à construção do conhecimento, para Piaget, essa se dá num processo de troca entre o meio e o indivíduo, a partir da equilibração entre assimilação e acomodação, processos distintos do indivíduo, um interno e o outro externo.
As teorias de Piaget e Vygotsky encontram-se justamente na questão da aquisição da linguagem, onde ambos encontram na importância dos símbolos a constituição da mesma. Os dois autores exploram a questão dos significados e significantes e vêem a interação um importante aspecto na linguagem. Contudo, em relação ao conhecimento, se para Piaget esse processo era ao mesmo tempo interno e externo, para Vygotsky essa construção se dava basicamente  na negociação de sentidos, a qual além de construir também internaliza esse conhecimento. Desta maneira, para este último autor, o sujeito adquire conhecimento a partir de relações interpessoais, na troca com o mundo.



domingo, 6 de maio de 2018

A escola possível



           
A escola como conhecemos hoje não surgiu do nada e nem tampouco para nada. A sua engrenagem, desde o seu início vem sendo montada com objetivos muito claros para quem a concebeu e que servem somente aos interesses de uma minoria branca, rica e patriarcal. Desde então tentam fazer com que a escola seja natural a tal ponto que seja impensável a possibilidade de questioná-la “Isto explica por que muitas críticas mais ou menos radicais à instituição escolar são imediatamente identificadas com concepções quiméricas que levam ao caos e ao irracionalismo.” (VARELLA, 1992, p.2).
            Essa escola começou a tomar forma quando a infância ganhou novas cores e nuances, quando a mesma foi inventada, isso por volta do século XVI, por religiosos os quais a definiram nada alheia aos interesses dos seus apostolados, procurando doutrinar aqueles seres indefesos, maleáveis, fracos de juízo e rudes. Foi então que a partir da definição de um estatuto da infância que se permitiu o aparecimento da escola nacional. Contudo, a infância para as classes populares não era pensada da mesma maneira que para as classes mais abastadas, assim, desde seus primórdios, “A educação será um dos instrumentos chave utilizados para naturalizar uma sociedade de classes ou estamentos” (página 4 maquinaria)
            Desta maneira, com uma sociedade que excluía as crianças das classes mais populares, a partir do século XIX quando a escola começa a ser obrigatória, a história da exclusão dentro da sociedade continua sendo reproduzida dentro dessa instituição, com professores que menosprezavam “a cultura das classes humildes, seus hábitos e costumes, desprezo reforçado e justificado pelos cursos da Escola Normal” (p.14). Ao pensarmos então na ação pedagógica dentro desse modelo de escola encontramos um “professor que não possui tanto saber, mas técnicas de domesticação, métodos para condicionar e manter a ordem; não transmite tanto conhecimento, mas uma moral adquirida em sua própria carne na sua passagem pela Escola Normal” (VARELLA, 1992, p.14).
            Essa ação pedagógica que foi caracterizada anteriormente, está baseada no empirismo, onde o professor fala e o aluno apenas executa, o professor é detentor do saber, o conhecimento é apenas transmitido para o aluno, o qual é considerado como uma tábula rasa,
Como se vê, esta pedagogia, legitimada pela epistemologia empirista, configura o próprio quadro da reprodução da ideologia; reprodução do autoritarismo, da coação, da heteronomia, da subserviência, do silêncio, da morte da crítica, da criatividade, da curiosidade. Nessa sala de aula, nada de novo acontece: velhas perguntas são respondidas com velhas respostas. A certeza do futuro está na reprodução pura e simples do passado. A disciplina escolar – que tantas vítimas já produziu – é exercida com todo rigor, sem nenhum sentimento de culpa, pois há uma epistemologia, uma psicologia (da qual não falamos aqui) e uma pedagogia que a legitimam. O aluno, egresso dessa escola, será bem recebido no mercado de trabalho (BECKER, 1994, p.3).
            Infelizmente, essa pedagogia ainda ronda os corredores das nossas escolas e continua tornando as nossas crianças marginalizadas, formando robôs prontos para apenas obedecer. Como bem sabemos, essa intenção de colocar para funcionar uma engrenagem assim serve somente aos interesses dos que detém o poder sócio-econômico-político, ou seja, essa intenção, essa política é ideológica.
            Contudo, ainda assim é possível deslocar as peças dessa maquinaria, o que se torna viável se além de vermos esse sistema e nos indignarmos com ele, enxergamos o mesmo de fato, refletindo a respeito e fazer com que nossos alunos também reflitam. Um caminho para isso é através de uma proposta construtivista, na qual o professor acredita que o aluno construirá algum conhecimento novo se ele agir e problematizar a sua ação, onde esse aluno não é visto como uma tábula rasa, mas um amontoado de conhecimento prévio apto a fazer novas descobertas, assim
O resultado dessa sala de aula é a construção e a descoberta do novo, é a criação de uma atitude de busca, e de coragem que esta busca exige. Esta sala de aula não reproduz o passado pelo passado, mas debruça-se sobre o passado porque aí se encontra o embrião do futuro” (Becker, 1994, p. 12)
            Assim sendo, somente a partir de uma sala de aula onde se garanta um espaço baseado numa relação horizontal entre professor e aluno, onde haja parceria e diálogo como o próprio Freire (1991) nos diz que é nele que se “enfatiza a reflexão, a investigação crítica, a análise, a interpretação e a reorganização do conhecimento”, onde o professor é mediador das relações interpessoais e facilitador do descobrimento, que se pode construir uma escola efetivamente democrática,
             O que mais precisamos fazer é nos munir de argumentos, de olhares críticos sobre o que está posto, precisamos burlar o sistema, ir além dele, jogar luz nas nossas salas de aula e enchê-las de questionamentos, de criticidade, de desafios, enchê-las de conhecimento, mas principalmente de alunos pensantes, formar cidadãos reflexivos a tal ponto de não  reproduzirem um sistema falido que exclui, que enxota, que é desigual e injusto. Que a diferença comece por aquele projeto do qual os alunos sempre vão se lembrar que participaram na sua aula, daquela atividade simples em que colocaram o corpo em movimento, daquela troca gostosa, daquele olho no olho.

Planejamento, um ato político-pedagógico

      O ato de planejar é constante e se faz necessário no nosso dia-a-dia. O planejamento de ensino é um momento muito importante do ato pedagógico. Desta maneira, a "ação pedagógica escolarizada, quando consciente, não poderá, pois distanciar-se da intenção política do tipo de ser humano que a educação pretende promover"(Rays, 2000).
      O planejamento revela muito qual a concepção de educação que um professor tem, pois todo e qualquer planejamento não está descolado de uma concepção ideológica da educação, como já dizia Freire, "Não há neutralidade na educação".
         Para Rays (2000) há alguns momentos desse ato, um dos primeiros é "a escola e realidade social", o qual diz respeito em como é aquele lugar, é a radiografia daquele espaço; o segundo momento ele chama de "retrato sócio-cultural", que é onde há a análise daquele lugar, nesse momento o olhar fica mais aguçado para se olhar criticamente para a escola e a sua comunidade; há também os "objetivos de aprendizagem e conteúdos de ensino" e geralmente, infelizmente, o planejamento na maioria das escolas só começa a partir daqui; posteriormente temos os "procedimentos de ensino-aprendizagem"; e por último, mas não menos importante, temos a avaliação, que está intimamente ligado aos quatro momentos anteriores.
        Planejamento é a dimensão política do ato educativo, todo o planejamento de uma ação pedagógica tem uma intenção, logo não é possível descolar as palavras político-pedagógico deste momento que é crucial para a aprendizagem dos alunos.