Temos vivido dias
sombrios nas mais diferentes áreas. Na educação não tem sido
diferente: todo aquele cenário frio e inóspito representado no
curta “Escolas Democráticas” (proposto na interdisciplina de Seminário Integrador VII) não se distancia muito das nossas escolas e
parece que há uma caça aos professores: em manifestações
pacíficas apanhamos literalmente, nas escolas, apanhamos, no sentido
figurado, de um sistema que visa apenas o lucro e que não aceita
questionamentos, logo, professor que faz pensar é muito perigoso.
Sendo assim, não é possível assistir ao curta e não fazer relação
direta com a nossa escola atualmente, em como ela pode ser uma
gaiola, autoritária e antidemocrática, para todos, professores e alunos.
Entristece saber
que nosso sistema de ensino engessa algumas ações coletivas e que
muitas das vezes conseguimos romper com essa lógica apenas
individualmente, em pequenas ações dentro das nossas salas de aula.
Esse sistema de ensino é extremamente autoritário, impõe tudo:
modos de agir e de pensar, ou melhor dizendo, não pensar, estabelece
padrões, acaba não dando voz e deixando à margem inúmeros alunos.
Da mesma maneira, a
imagem que aquela escola do curta passa é de uma gaiola, que prende
os alunos num espaço físico, Rubem Alves já nos fala que
Escolas
que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do
voo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados,
o seu dono pode levá-las para onde quiser. Pássaros engaiolados
sempre têm um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque a essência
dos pássaros é o voo.
O
que observamos no curta são alunos-pássaros tristes, que não sabem
de toda a sua capacidade de voar, de ir além, mal sabendo que a sua
verdadeira essência é o voo. Alves faz justamente um contraponto a
essa gaiola falando que
Escolas
que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são
os pássaros em vôo. Existem para dar aos pássaros coragem para
voar. Ensinar o vôo, isso elas não podem fazer, porque o vôo já
nasce dentro dos pássaros. O vôo não pode ser ensinado. Só pode
ser encorajado.
Ou
seja, ao olharmos para a escola autoritária e engaiolante que se
forjou com anos e anos de dominação e refletirmos sobre essa outra
escola possível, uma escola democrática que é asa, é impossível que não
possamos lutar por ações, debates e discussões dentro dos espaços
escolares e para fora deles também pensando sobre esse outro lugar possível e fazendo ele acontecer. Escola democrática é construção coletiva e dentro dessa construção cada um tem voz e vez para ser e fazer.
Ao olhar para as escolas onde leciono percebo uma tentativa de engessamento da parte da mantenedora e uma contínua resistência de nós professores para com esse sistema engaiolante. Não tem sido nada fácil: estamos adoecendo, perdendo a motivação, a força. Confesso que antes de iniciar o ano estava totalmente desmotivada e sem nenhuma perspectiva positiva em relação a esse ano letivo. Contudo, foi numa reunião de início de ano de uma das escolas, quando conversávamos sobre o porquê de estarmos nesse espaço e de sermos quem somos que voltei o olhar novamente para os meus alunos e percebi então que a luta e a resistência não se fazem apenas fora das quatro paredes de uma sala de aula, nas paralisações, assembleias, reuniões ou greve. A resistência deve acontecer em todo e qualquer lugar, mas principalmente dentro da sala de aula, nas aulas, com os alunos. Foi depois do primeiro dia de aula que tomei um novo fôlego, alimentei meu coração de esperança, preenchi a cabeça de ideias, levantei a cabeça e sigo!