terça-feira, 27 de março de 2018

Sobre ter asas


Por uma escola sem gaiola
      Temos vivido dias sombrios nas mais diferentes áreas. Na educação não tem sido diferente: todo aquele cenário frio e inóspito representado no curta “Escolas Democráticas” (proposto na interdisciplina de Seminário Integrador VII) não se distancia muito das nossas escolas e parece que há uma caça aos professores: em manifestações pacíficas apanhamos literalmente, nas escolas, apanhamos, no sentido figurado, de um sistema que visa apenas o lucro e que não aceita questionamentos, logo, professor que faz pensar é muito perigoso. Sendo assim, não é possível assistir ao curta e não fazer relação direta com a nossa escola atualmente, em como ela pode ser uma gaiola, autoritária e antidemocrática, para todos, professores e alunos.
     Entristece saber que nosso sistema de ensino engessa algumas ações coletivas e que muitas das vezes conseguimos romper com essa lógica apenas individualmente, em pequenas ações dentro das nossas salas de aula. Esse sistema de ensino é extremamente autoritário, impõe tudo: modos de agir e de pensar, ou melhor dizendo, não pensar, estabelece padrões, acaba não dando voz e deixando à margem inúmeros alunos.
    Da mesma maneira, a imagem que aquela escola do curta passa é de uma gaiola, que prende os alunos num espaço físico, Rubem Alves já nos fala que
Escolas que são gaiolas existem para que os pássaros desaprendam a arte do voo. Pássaros engaiolados são pássaros sob controle. Engaiolados, o seu dono pode levá-las para onde quiser. Pássaros engaiolados sempre têm um dono. Deixaram de ser pássaros. Porque a essência dos pássaros é o voo.
     O que observamos no curta são alunos-pássaros tristes, que não sabem de toda a sua capacidade de voar, de ir além, mal sabendo que a sua verdadeira essência é o voo. Alves faz justamente um contraponto a essa gaiola falando que
Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são os pássaros em vôo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o vôo, isso elas não podem fazer, porque o vôo já nasce dentro dos pássaros. O vôo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado.
    Ou seja, ao olharmos para a escola autoritária e engaiolante que se forjou com anos e anos de dominação e refletirmos sobre essa outra escola possível, uma escola democrática que é asa, é impossível que não possamos lutar por ações, debates e discussões dentro dos espaços escolares e para fora deles também pensando sobre esse outro lugar possível e fazendo ele acontecer. Escola democrática é construção coletiva e dentro dessa construção cada um tem voz e vez para ser e fazer.
     Ao olhar para as escolas onde leciono percebo uma tentativa de engessamento da parte da mantenedora e uma contínua resistência de nós professores para com esse sistema engaiolante. Não tem sido nada fácil: estamos adoecendo, perdendo a motivação, a força. Confesso que antes de iniciar o ano estava totalmente desmotivada e sem nenhuma perspectiva positiva em relação a esse ano letivo. Contudo, foi numa reunião de início de ano de uma das escolas, quando conversávamos sobre o porquê de estarmos nesse espaço e de sermos quem somos que voltei o olhar novamente para os meus alunos e percebi então que a luta e a resistência não se fazem apenas fora das quatro paredes de uma sala de aula, nas paralisações, assembleias, reuniões ou greve. A resistência deve acontecer em todo e qualquer lugar, mas principalmente dentro da sala de aula, nas aulas, com os alunos. Foi depois do primeiro dia de aula que tomei um novo fôlego, alimentei meu coração de esperança, preenchi a cabeça de ideias, levantei a cabeça e sigo!

domingo, 18 de março de 2018

Sobre ética e alteridade

        "O que estamos fazendo uns com os outros?", Márcia Tiburi abre o seu vídeo falando um pouco a respeito da ética, do seu aprendizado que é também um aprendizado de convivência e que ela também é uma produção da cultura.
         Em certa altura do vídeo, ela fala sobre a relação entre dois conceitos: ética e alteridade. Ao pesquisar um pouco sobre alteridade, sobre essa capacidade de se colocar no lugar do outro é inevitável não relacionar esse conceito com a interdisciplina de educação de pessoas com necessidades educativas especiais no sentido de que muitas das vezes enterramos a nossa cabeça na terra como avestruzes não querendo enxergar a realidade e não pensamos que ali na nossa frente há um outro que também sente, que pulsa, que vive.
      Uma fala recorrente entre professores que têm aluno com alguma necessidade educativa especial é "Eu não sei o que fazer com ele.". Ao encontro dessa fala Tiburi diz que "Só vamos encontrar a nós mesmos no momento em que eu estiver disponível para esse estranho", ou seja, no momento que eu desenterrar a minha cabeça e transpor a ponte que me separa daquele aluno, quem sabe de fato eu não comece a me encontrar e encontrar estratégias para trabalhar com aquele aluno em sala de aula.


                                     

sábado, 17 de março de 2018

Aprendizagem X Desenvolvimento


Neste semestre, na interdisciplina de psicologia, foi proposto que revisitássemos alguns conceitos importantes e que são muito pertinentes a toda e qualquer sala de aula. Debatemos muito sobre desenvolvimento e aprendizagem e ficam claras algumas diferenças entre aprendizagem e desenvolvimento.
                Desenvolvimento é um “processo espontâneo, ligado ao processo global da embriogênese” e alguns fatores são capazes de explicá-la, tais como a maturação, experiência e os efeitos do ambiente físico na estrutura da inteligência, transmissão social, equilibração.
             A aprendizagem está subordinada  ao desenvolvimento e “em geral, é provocada por situações (provocada por alguém, um professor, por exemplo)”, ou seja, ela não ocorre da mesma forma que o desenvolvimento, ela não se dá espontaneamente e “é um processo limitado a um problema simples”.
            Sendo assim, considerando que a aprendizagem não se dá de maneira espontânea o construtivismo vai ao encontro da mesma, pois ele inclui o aluno, facilita a assimilação ativa já que acaba por contextualizar conceitos, não separa a forma e conteúdo, apesar de não confundir os mesmos.
             Desta maneira, podemos deixar evidente as diferenças entre aprendizagem e desenvolvimento e o quão importante é o construtivismo para a construção do conhecimento dos alunos, ou seja, para a aprendizagem, pois o mesmo é capaz de incluir o aluno no processo, colocando-o como protagonista nesse cenário.

               

sexta-feira, 16 de março de 2018

Quebrando paradigmas

    O vídeo abaixo foi retirado do YouTube e mostra uma criança totalmente desajustada aos padrões do lugar onde vivia e nos faz pensar exatamente nisso: quantos alunos não estão fora de certos padrões estabelecidos? Quem estabelece esses padrões? Não somos nós professores dentro das nossas salas de aula os principais responsáveis por essa quebra de paradigmas? Convido-o agora agora a assistir ao vídeo e pensar também um pouco a respeito.



Inclusão e acesso

          A acessibilidade é um tema muito relevante quando falamos de alunos com necessidades educativas especiais. Todos temos o direito de ir e vir e dentro de uma escola, incluir é também pensar em como um aluno que tem alguma necessidade especial no deslocamento locomover-se, sendo capaz de ocupar todos os espaço. Já tive aluno cadeirante e encontrei algumas dificuldades para trabalhar com ele, principalmente no que se referia ao seu deslocamento. 
         A sala de aula tinha uma rampa improvisada, algumas salas, como o ambiente informatizado e a sala de vídeo eram no 2º andar e não havia possibilidade nenhuma de acesso do aluno àqueles espaços.
            A escola em momento algum pensou em descer essas salas e torná-las acessíveis ao aluno, nem tampoucou a mantenedora pensou em fazer daqueles espaço mais acessível para ele. Eu e os meus alunos fazíamos o que podíamos, mas ficava claro que aquele sistema de ensino não incluía aquele aluno.

Professor pesquisador e o Método Clínico

       O que me chamou a atenção a respeito do método clínico é o olhar que se tem sobre o indivíduo no atendimento e desenvolvimento das crianças.
       Levar esse método para a sala de aula é desafiador, propõe reflexões profundas pois nos possibilita muitas análises.
       Contudo, acredito para que o método seja realmente bem aplicado seriam necessárias mais leituras a respeito para que as observações pudessem ser mais embasadas. Desta maneira, poderia-se fazer um professor reflexivo que pensa sobre: sobre o seu aluno, sobre a sua sala de aula, sobre a sua prática docente.

Para lembrar de não esvaziar a discussão

         A epistemologia genética é muito importante para a educação, ela fez enxergar de uma maneira diferente o indivíduo em desenvolvimento e o seu processo de construção do conhecimento, ambos os conceitos que são o carro chefe de uma escola.
         Hoje em dia, são tantas as lutas que temos travado que as mesmas têm nos deixado um tanto quanto tontos, sem rumo e sem refletir sobre um questionamento sobre qual o porquê da escola, o qual é tão importante.
        Sinto que muitas vezes temos esvaziado as nossas discussões sobre aprendizagem, construção do conhecimento, metodologia entre outros assuntos em função de governos e governantes que excluem cada vez mais os excluídos.

quinta-feira, 15 de março de 2018

Cruzando pontes, deixando crocodilos para trás

      Nossa vida na escola parece uma selva muitas vezes: matamos um leão por dia quando chegamos e nos deparamos com o descaso e esquecimento do poder público para conosco; 
      Contudo, muitas das vezes não conseguimos lidar com os nossos próprios bichos. Amaral fala muito bem dos nossos bichos quando o assunto é inclusão, ela fala dos crocodilos que nos cercam e em como nos transformamos muitas vezes em avestruzes quando o assunto é necessidades educativas especiais: "Quanto aos mitos, penso que o profundo abismo que separa o mito da realidade pode ser simbolizado como os fossos repletos de crocodilos dos castelos medievais. Brincando com a ideia, tenho nomeado esses hipotéticos crocodilos de preconceitos, estereótipos e estigma".
     Amaral ainda nos diz que existe uma ponte para transpor esses crocodilos e que ela é a oportunidade de encontro seja "ao vivo e em cores" ou por meio de um livro. Porém, se nesse momento de encontro eu me comportar como um avestruz, fugindo desse encontro, enterrando a cabeça na areia, desperdiçarei uma grande oportunidade. 
      Acredito muito que o nosso curso é um desses momentos de encontro, pois tive grandes momentos de aprendizado no que se refere à educação de pessoas com necessidades educativas especiais. Espero ter aproveitado a oportunidade.


quarta-feira, 14 de março de 2018

Um índio, muitas histórias

      Logo quando se começa a falar sobre cultura indígena pode ser que se pense em alguns estereótipos a respeito dos índios, principalmente no que se diz respeito à sua alimentação, modo de vida e vestimentas. Enfim, muitas das vezes, colocam os índios dentro de um mesmo grupo cultural.
        Contudo, Daniel Munduruku, índio e escritor em seu livro "Coisas de índio" fala muito sobre a diversidade da própria cultura indígena no Brasil, assim como as autoras Bergamaschi & Gomes nos trazem que "Podemos dizer que, em geral, os saberes selecionados oficialmente nas escolas desconsideram a pluralidade de povos indígenas, hoje presentes na nação brasileira com cerca de 240 diferentes etnias, relegando-os a uma visão generalizada".
            Desta maneira, assim como com a cultura afro-brasileira, há muito o que ser estudado e acredito eu que careço de formação e informação sobre. Não podemos reduzir a cultura indígena ignorando a sua diversidade.


segunda-feira, 12 de março de 2018

A diversa diversidade

     Desde que comecei a fazer concurso dificilmente passo uma prova sem esbarrar em alguma questão sobre a lei 10.639. Mas afinal, quem é essa e o que ela nos diz? Basicamente ela nos traz que:
 "LEI No 10.639, DE 9 DE JANEIRO DE 2003. Altera a Lei no9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira", e dá outras providências."
     Desta maneira, História e Cultura Afro-Brasileira devem fazer-se presente nos currículos escolares e "cabe aos sistemas de ensino, no âmbito da sua jurisdição, orientar e promover a formação de professores e supervisionar o cumprimento das Diretrizes". Ou seja, não basta apenas a lei, é preciso que ainda exista ações para que ela de fato seja colocada em prática e uma delas passa pela formação de professores.