domingo, 16 de julho de 2017

Senta que lá vem mais história

     E chegamos a mais um final de semestre. Entre mortos e feridos, salvaram-se todos.
     Foi mais um semestre de muito aprendizado e parceria.
     Mais um semestre de se virar como dá pra resolver a equação trabalho+filho doente+ leituras-horas de sono.
     Rumo a mais um semestre.

Que qualidade na Educação queremos?

       "Pensar a qualidade social da educação implica assegurar um processo pedagógico pautado pela eficiência, eficácia e efetividade social, de modo a contribuir com a melhoria da aprendizagem dos educandos, em articulação à melhoria das condições de vida e de formação da população. A busca por melhoria da qualidade da educação exige medidas não só no campo do ingresso e da permanência, mas requer ações que possam reverter a situação de baixa qualidade da aprendizagem na educação básica, o que pressupõe, por um lado, identificar os condicionantes da política de gestão e, por outro, refletir sobre a construção de estratégias de mudança do quadro atual. O conceito de qualidade, nessa perspectiva, não pode ser reduzido a rendimento escolar, nem tomado como referência para o estabelecimento de mero ranking entre as instituições de ensino. Assim, uma educação com qualidade social é caracterizada por um conjunto de fatores intra e extra-escolares que se referem às condições de vida dos alunos e de suas famílias, ao seu contexto social, cultural e econômico e à própria escola – professores, diretores, projeto pedagógico, recursos, instalações, estrutura organizacional, ambiente escolar e relações intersubjetivas no cotidiano escolar." DOURADO, Luiz Fernandes, in  Educ. Soc., Campinas, vol. 28, n. 100 - Especial, p. 921-946, out. 2007.
             A afirmação de Dourado e principalmente esse trecho vem ao encontro daquilo que tem acontecido na rede municipal de ensino de Porto Alegre: o prefeito e secretário de educação auxiliados pela grande mídia, têm desestruturado e muito questionado a rede baseados em índices que indicam que os nossos alunos não sabem nada, ou quase nada, de português e matemática, colocando em xeque a nossa rotina escolar, as nossas reuniões pedagógicas e indicando que talvez grande parte desses problemas aconteça devido a escolha da equipe diretiva se dar atualmente de forma democrática através de eleições que são realizadas na escola com ampla participação da comunidade escolar.
            Segundo os gestores, as escolas municipais têm uma das melhores infraestruturas, ou seja, os aspectos intra-escolares como as salas de informática, por exemplo, estão em ótimo e pleno funcionamento. Contudo, não é isso que acontece nas duas escolas que leciono, pois em nenhuma delas o Laboratório de Informática está com todos os seus computadores funcionando, aliás, em uma das escolas, justamente na que eu me propus realizar o Projeto de Aprendizagem, apenas 3 (três!) computadores estão funcionando.
            Ainda segundo relatório apresentado recentemente pelo TCE (Tribunal de Contas do Estado), as nossas escolas municipais de Porto Alegre ficam em zonas bem localizadas não sofrendo com os fatores extraescolares, o que é não é verdade, vide o que têm acontecido na escola Pessoa de Brum, que só no último mês sofreu com quatro episódios de tiroteio enquanto os alunos estavam em aula, causando pânico e tumulto. No ano passado, em uma das escolas que trabalho, quase no final do turno da manhã, ocorreu uma perseguição policial nos arredores da escola o que fez com que os alunos não pudessem ter aula no turno da tarde. Sem contar nas situações precárias de moradia que muitos alunos vivem.

            Esses fatores, tanto os internos quanto os externos, causam impactos na aprendizagem dos alunos, mas nossos atuais gestores preferem fechar os olhos para eles, assim como fechar os olhos para o maior projeto da Escola Heitor Villa Lobos: a orquestra! O qual é tocado com maestria pela professora Cecília e que precisa muito que os fatores intraescolares lhe deem condições de levar adiante o projeto e que apesar da dificuldade que os fatores extraescolares apresentam é capaz de, ao menos aos poucos, modificar o futuro daquelas crianças que participam da orquestra. Mas só com apoio daqueles que gerem a escola (o qual é irrestrito na nossa escola, no Villa) e da Mantenedora, que não pode dar destaque apenas ao português e matemática, é que poderemos, como Dourado nos trouxe “Pensar a qualidade social da educação” a qual, como ele mesmo diz “implica assegurar um processo pedagógico pautado pela eficiência, eficácia e efetividade social, de modo a contribuir com a melhoria da aprendizagem dos educandos”.

sábado, 15 de julho de 2017

Reflexões

     Vivemos tempos difíceis para os sonhadores, para todos aqueles professores, que assim como eu, querem um mundo melhor, onde a educação, que é direito de todos, seja de qualidade e realmente para todos, onde, reconhecendo a função social dela possamos fazer de cada aula um ato político, pois, como já dizia Paulo Freire, não há neutralidade na educação.
        Estando consciente dos tempos em que vivemos, lendo o texto "Políticas públicas e gestão da educação em tempos de redefinição do papel do Estado" e acompanhando o nosso momento político tanto no âmbito federal, quanto no estadual e no municipal, o que notamos é que a educação caminha para o lado totalmente contrário, vide a atual situação da nossa educação na rede municipal de Porto Alegre, que passa por uma crise terrível, como bem escreveu Juremir Machado em seu texto Aprender com o erro: "Estamos vivendo a pedagogia do retrocesso".
      Desde o início do seu mandato, o prefeito de Porto Alegre, senhor Nelson Marchezan, espalha aos quatro ventos que a prefeitura está em crise, assim como no Plano de Reforma do Estado, o prefeito decretou a falência do município. As suas estratégias são muito parecidas com o plano anteriormente citado e o maior vilão das conta públicas são os funcionários públicos, principalmente nós professores e as políticas sociais, tal e qual Peroni já anunciava em 2008 que aconteceu com o nosso país e deu o pontapé inicial no Plano de Reforma nos idos de 2000
      Assim como no âmbito federal, o prefeito de Porto Alegre tem pressionado para colocar em votação o seu pacotaço e desde o dia 21 de fevereiro, ele, juntamente com o seu secretário de educação, vem golpeando a gestão democrática, princípio constitucional, dentro das escolas da rede, desmontando o currículo, negando o diálogo com a comunidade escolar argumentando que há uma grande crise nas contas da prefeitura e embasado no relatório do TCE (Tribunal de CONTAS do Estado) que cita em seu texto que a forma como os diretores são escolhidos nas escolas, através de eleição, é um dos fatores que compromete a qualidade do ensino fundamental.
      Se um tribunal que fiscaliza as contas públicas dá conta de que o ensino em uma rede não vai bem há alguma coisa de errado. A que, ou a quem, servem os interesses do TCE? Da sociedade civil ou do mercado? Da eficiência e eficácia da Educação como se essa estivesse acontecesse em regiões nobres da cidade onde tudo funciona? Como se a maioria das escolas não estivesse localizada em zonas periféricas da cidade? Tentando medir a qualidade na educação como se essa estivesse lidando com máquinas, desconsiderando inúmeros outros fatores?    
      A partir disso surge a questão principal: e a função social da escola fica onde? E o direito à educação àqueles que historicamente ficaram fora? É pela educação popular, tendo consciência da função social das nossas escolas, pensando naquele aluno de periferia que vive em zonas de extrema vulnerabilidade social e acreditando que é com a gestão democrática que construiremos uma escola de todos e para todos que nós professores da rede municipal de Porto Alegre seguimos na pesada e árdua luta por uma educação de qualidade, é acreditando que se pode, apesar de temer, fazer do nosso país um lugar melhor de se viver que seguiremos tomando as ruas.
        

sexta-feira, 14 de julho de 2017

Sobre o Projeto de Aprendizagem

       Ao retomar o trabalho que desenvolvi na minha turma muitas reflexões vêm à tona: primeiramente a insegurança em realizar um trabalho no qual os alunos seriam essencialmente os protagonistas do aprendizado, segundo como desenvolver esse tipo de trabalho se eu precisava de internet para que os meus alunos pudessem realizar as pesquisas e por último, mas não menos importante, como nós conseguiríamos realizar um mapa conceitual interligando todos aqueles conceitos.
            Logo de início, já deixo claro que eu me surpreendi muito positivamente com os meus alunos, os quais muitas vezes eu subestimei e que se mostraram extremamente atentos, inteligentes, críticos e facilmente ocuparam o lugar que sempre lhes coube, o de protagonistas do aprendizado. Muito se fala nesse protagonismo do aluno, contudo, colocá-lo realmente à frente do processo de aprendizagem nem sempre acontece em sala de aula e falo por mim que a insegurança em realizar um trabalho que te desloca como professor, que te desequilibra realmente mexe conosco, inclusive com a questão da identidade e caso não consigamos nos colocar no papel de professor reflexivo capazes de promover mudança através dessa ação, será mais complicado lançar mão de velhas práticas e abraçar essa nova proposta de trabalho.
            Uma das grandes fragilidades que percebi ao decorrer do trabalho foi a questão da logística, de como fazer para realizar a pesquisa, uma etapa importante do trabalho, pois na minha escola o Laboratório de Informática conta com apenas três computadores em funcionamento e levar uma turma com quase trinta alunos para aquele lugar deveria contar com um bom planejamento e foi isso que fizemos: quando tínhamos que pesquisar, nós organizávamos o trabalho na sala de aula antes e então íamos todos juntos para a Informática onde enquanto alguns grupos de alunos utilizavam os computadores disponíveis, outro realizava conversas ou produzia escritos referentes ao projeto. Dessa maneira, acabamos encontrando um caminho para superar essa dificuldade, mas que nem assim pode ser passada em branco, pois é uma grande fragilidade na realização desse tipo de trabalho e requer um esforço extra de todos os envolvidos.



            Outro aspecto importante do trabalho foi a construção do mapa conceitual, foi na produção do nosso primeiro que os alunos expressaram as frases mais contundentes em relação ao trabalho: “Parece um grande cérebro.”, disse uma aluna, “Uma coisa tá ligada na outra.”, falou outra menina. Naquele momento eu percebi que todo o trabalho estava valendo a pena, foi naquele momento que percebi o quanto era importante e que o aquilo que muitas vezes eu mesma fiz, de linkar um conhecimento ao outro, os meus alunos, autonomamente fizeram. Ali deu-se uma rica construção do conhecimento muito bem embasada e cheia de significados. Aliás, ressignificamos o conceito de tecnologia e o aproximamos da nossa realidade.

quinta-feira, 13 de julho de 2017

LDBEN

Concordo plenamente com essa fala de Jamil Cury, que nos traz que "Mexer na LDBEN é abrir o campo para novos retrocessos", pois a mesma justifica-se pelo atual momento político que estamos passando, com um presidente interino golpista, que faz a frente de uma ideologia totalmente a favor do mercado, que está em um partido que sempre teve lado, o seu próprio lado, que sempre usou de pactos para chegar ao poder e fazer a manutenção desse.
Essa fala justifica-se também porque o próprio Cury nos traz que a "Educação é um campo de disputas", através dela podemos construir uma nação a longo prazo, por meio dela podemos cegar uma nação, fazer com que ela não pense, apenas trabalhe.
Justifica-se também porque quando a LDBEN nasceu havia apoio do poder Legislativo, agora imaginemos o nosso Legislativo, palco de alguns shows de horrores como a votação do golpe, composto majoritariamente por homens brancos, cheios de privilégios, um congresso vendido e extremamente conservador.
Sendo assim, realmente é impossível abrir esse campo para mexer na LDBEN porque só teremos retrocesso. É muito importante que nós professores, tenhamos acesso a LDBEN, pois ela é fundamental para nos garantir os direitos e os respaldos que precisamos. 
Chega de retrocesso na educação e #foratemer! 

domingo, 9 de julho de 2017

Sou Villa

        No início do ano passado passei por um grande desafio na minha vida profissional: dar um novo recomeço na minha carreira em uma nova rede de ensino, a rede municipal de Porto Alegre. Apesar de já ter oito anos de experiência como professora, assumir esse concurso, ir lecionar na periferia de Porto Alegre e dar de cara com a realidade muito sofrida da maioria da minha turma do ano passado foi tenso, muito tenso e desafiador, eu tive que me redescobrir como professora, revisitar a minha identidade, o que não foi um processo nada fácil.
        Contudo, em meio a tanta dificuldade, eu encontrei uma equipe diretiva que me acolheu,  uma equipe pedagógica que me orientou e colegas que me deram apoio para continuar, que o caminho, por mais difícil que fosse eu conseguiria trilhar, o que mais me motivou a seguir firme e forte e continuar nesse ano na mesma escola muito feliz com as minhas escolhas foi um ambiente onde eu pertenço, onde eu faço parte das escolhas, onde eu tenho voz, foi uma gestão democrática que abre espaço para eu crescer profissionalmente.
           Muitas vezes, quando estamos em escolas onde não há esse espaço de fala, podemos até não perceber, mas não há um sentimento de pertencimento àquela escola, àquele ambiente, o que é de extrema importância para que possamos fazer a diferença naquele lugar, na vida daquelas pessoas, envolvendo-se de fato com elas. Sinto-me muito envolvida com o Villa, sou Villa.

Será?


      E fica o questionamento: quais são as nossas expectativas quanto aos nossos alunos? Será que a Educação Infantil, na "obrigação" de entregar uma avaliação semestral não acaba cobrando demais dos pequenos? Será que estamos deixando que essas crianças sejam apenas crianças?

sábado, 8 de julho de 2017

"Pra que Grêmio Estudantil?"

         A frase que dá título a essa postagem muito escutei há algum tempo atrás quando estive atuando na equipe diretiva de uma escola. A diretora não via necessidade de dar voz àqueles alunos, não queria intervenção deles. Ai se reclamassem: erguia a voz e esbravejava.
       O que víamos como resultado era uma escola cada vez mais depredada, alunos desmotivados, inclusive com a própria formatura. Eu e mais uma colega da equipe pedagógica tentávamos abrir essa possibilidade, mas éramos barradas pela diretora por ela não concordar com o projeto de dar voz aos alunos.
...é necessário criar condições concretas para que essa participação ocorra de fato, para que a classe trabalhadora tenha condições de se apropriar da escola e que a escola, por sua vez, se esforce para democratizar o saber sem que isso lhe seja imposto, para que todos tenham condições de intervir com segurança e autonomia (Galina).
        Sendo assim, as condições supracitadas não aconteciam, nem no Conselho Escolar, onde as reuniões eram no horário em que os pais estavam, em sua maioria trabalhando, nem tampouco na proposta de se criar um Grêmio Estudantil, pois esse não era visto com bons olhos pela diretora e por alguns colegas que inclusive achavam que eu e essa outra colega-parceira escutávamos demais as queixas dos alunos.
         Sabíamos que não era um caminho fácil e nem com uma receita pronta, mas tínhamos certeza que uma escola só se constrói se isso passar pelas mãos de todos.

sexta-feira, 7 de julho de 2017

Escrevendo O PPP a muitas mãos

     Poucos documento são tão importantes dentro de uma escola quanto Projeto Político Pedagógico, contudo, a importância desse documento é proporcional ao esquecimento desse, seja nas nossas formações ou nas nossas tomadas de decisão.
      A construção dessa escola democrática é relativamente nova, sendo assim, como nos trazem as autoras Maria Beatriz Gomes e Mariângela Bairros
Talvez isso explique parte da resistência que ainda se observa em nossas escolas, quando os quadros docentes e demais segmentos da comunidade escolar são chamados para participarem do processo de formulação da/o PPP e do regimento escolar. Daí, a importância de dar destaque a esses dois instrumentos e de considerá-los espaços/tempos para a construção de uma escola pública democrática. 
       Desta maneira, da mesma forma que é preciso dar mais espaço e visibilidade para o Conselho Escolar, também é de extrema importância fazer isso com o Projeto Político Pedagógico, pois só assim construiremos uma escola de todos e para todos.

quarta-feira, 5 de julho de 2017

Conselho Escolar: Para quê? Para quem?

          Pude vivenciar de perto e frequentar algumas reuniões do Conselho Escolar de uma escola em trabalhei há algum tempo atrás e a lógica lá implantada era triste: o único motivo de existência do conselho era para dar validade às compras da escola. O presidente do Conselho, apenas servia para assinar os cheques.
        Tais práticas  estavam instauradas há algum tempo e muito me incomodavam, pois via-se aqueles pais, alunos e funcionários sem voz num espaço que seria para ampliar a sua fala e de representatividade.
          Hoje, ao ler sobre os textos sobre Conselho Escolar percebo que muitas coisas ainda seguem distorcidas nesse espaço e que por esse motivo, o poder público não leva em consideração esse espaço de fala tão importante. Talvez, se nós mesmos, professores, largássemos mão de deter todo o poder dentro da escola e realmente déssemos mais poder ao Conselho Escolar, esse pudesse ganhar mais força e visibilidade, garantindo mais direitos para a nossa comunidade escolar.